sexta-feira, 30 de julho de 2010

Van Gogh e o Vestido Vermelho; Parte1

Um vestido vermelho. Peça sedutora para mentes arrebatadas; o desvelar de pernas que contornam o desejo, o sinuar de curvas que garantem o prazer, brilho nobre carmesim que faz dos olhos, passivos admiradores. Um lindo vestido vermelho! O objeto cobiçado por homens e mulheres e artistas e crianças. Gostoso de nas vistas se ter... De um vestido vermelho é que a estória se trata. Um vestido que passou, à margem da história, pelas emoções que o homem carrega.

Hoje um carro trafega, audaz e imponente, por uma das mais belas cidades do mundo, uma cidade há muito cingida de vermelho, sangue de inumeráveis revoluções, o carro dispara impulsionado pela pressa. Dentro do carro, um homem, chofer refinado, entupido, desde a manhã, na convulsão de sonhos, temores e visões, agora observa, em soslaio profissional, a pequena e desbotada foto perdida na clausura discreta de uma das trinchas do suntuoso painel do veículo; uma linda mulher, a sua, que na foto sorri em um encarnado vestido. O vermelho que faz brotar a vida.

Atrás, entre todo o conforto e luxo da máquina feita para reluzir, uma mulher, abastada madama, desde a manhã convicta de sua grandeza, e da grande jogada que está prestes a astuciar, olha o catálogo, com pensamentos em outro longínquo lugar, em tempo tão remoto à véspera. O catálogo brilha em suas mãos, feito da mais perfeita fineza que a glória poderá produzir; o catálogo do histórico leilão que, daqui a pouco, sacolejará, de uma vez por todas, todos os confins celestes das artes plásticas de nosso decíduo mundo.

Dentro do catálogo, a peça chave, o inestimável tesouro que a antiga casa de leilões trará a baila, repousa tranqüilo em uma singela imagem; um vestido vermelho. O achado do século, do milênio, de toda a arte ocidental contemporânea: uma tela de Van Gogh até então perdida, pintada em seu período final, St.-Rémy, encontrada, recentemente, nos escombros imemoriais de uma casinha de vilela. O quadro traz a figura de uma jovem desolada, perdida na inconstante e surreal paisagem cinzenta da noite, envolta em desespero e lágrimas, vista de costas, na majestosa realeza de um vestido vermelho.

No rápido auto, homem e mulher seguem, separados pelo pesado vidro do carro, mais o intransponível muro de classes, seguem com seus dramas, os quais falaremos adiante, seguem com singelas esperanças; filhos amados de um porvir duradouro. Homem e mulher buscam a vitória, ambos, unidos sem saber, sobre o terrível destino de uma beleza... a de um vestido vermelho!

Um comentário:

  1. Ei-la que teremos uma estória! Já estou ansioso.
    abraço.

    p.s. - posso dar uma sugestão? Retira o verificador de mensagens, isso atrapalha e não raro afasta os comentários dos leitores!

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