Parto por este tranqüilo rio, a paisagem é consoladora... em cada margem, em cada palmo que ganho com a barca, o mundo em derredor vai tornado miragem, a liga céu-terra-ar de imagens pálidas... ao longe, lá onde o vasto oceano se inicia, uma grande tormenta se forma. Rumo para a tempestade, para o olho que, nas chamas cruas do homem, revelará, aturdido, a vã busca deste barqueiro.
O cenário é só dor, lembra-me obra impressionista; triste triste em impressão solitária. Um pouco além de onde, agora, estou, uma mulher lava trapos na beira do rio. Ela vai aos prantos, esquecida do mundo, largada aos pés do chiar incessante da água. Leva ao rio um pano carmim, sangue, tão profundo quanto o fel de sua solidão. Deveria, esta alma, labutar em tão triste paragem?
Todo o quadro que a barca desdobra, não sei de onde e quando, faz-me lembrar, autômato, uma outra estória de solidão. Uma estória sobre um grande artista e um vestido carmim. Era mais ou menos assim...
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